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Resumo

  • No Brasil, jovens que não viveram a ditadura militar (1964-1985) são alvo fácil de discursos que romantizam o período, apresentando-o como uma era de “ordem” e “progresso” — ocultando prisões arbitrárias, censura e tortura.
  • Pesquisas do Observatório de Memória Política mostram que, em países que não promoveram políticas de justiça transicional robustas, a população tende a exibir maior tolerância a violações de direitos humanos no presente.
  • Especialistas apontam que a melhor forma de combater a amnésia histórica é integrar no currículo escolar um ensino crítico da história contemporânea, que inclua o estudo de documentos originais, testemunhos de sobreviventes e análise de contextos.

O enfraquecimento da memória histórica é mais do que um fenómeno cultural: é uma ameaça política. Quando sociedades deixam de recordar com precisão as suas experiências autoritárias, abrem espaço para que narrativas distorcidas se imponham e que erros do passado se repitam.

No Brasil, jovens que não viveram a ditadura militar (1964-1985) são alvo fácil de discursos que romantizam o período, apresentando-o como uma era de “ordem” e “progresso” — ocultando prisões arbitrárias, censura e tortura. Em Portugal, a memória do salazarismo permanece fragmentada, com setores que minimizam a repressão e a ausência de liberdades fundamentais.

“A amnésia histórica não é natural; é construída, alimentada pela omissão e pelo revisionismo”, sublinha a historiadora Irene Pimentel. “E quando o passado é esquecido, torna-se maleável nas mãos de quem quer moldar o futuro.”


Memória e identidade nacional

A memória coletiva funciona como uma âncora de identidade, mas também como mecanismo de defesa democrática. Ao enfraquecer essa memória, regimes e movimentos autoritários conseguem apresentar-se como solução legítima para crises contemporâneas, explorando inseguranças económicas, sociais e culturais.

Pesquisas do Observatório de Memória Política mostram que, em países que não promoveram políticas de justiça transicional robustas, a população tende a exibir maior tolerância a violações de direitos humanos no presente.


Educação como antídoto

Especialistas apontam que a melhor forma de combater a amnésia histórica é integrar no currículo escolar um ensino crítico da história contemporânea, que inclua o estudo de documentos originais, testemunhos de sobreviventes e análise de contextos. Países como a Alemanha, que incorporaram visitas a locais de memória no ensino básico, registam níveis mais baixos de negacionismo e nostalgia autoritária.

No Brasil, iniciativas como o Memorial da Resistência e, em Portugal, o Museu do Aljube desempenham papel essencial, mas ainda insuficiente, para chegar às novas gerações.


O custo do esquecimento

A amnésia histórica corrói o tecido democrático. Ao permitir que factos se tornem opiniões e que crimes se transformem em “interpretações alternativas”, fragiliza-se o consenso básico sobre direitos e liberdades. A história, quando ignorada, não desaparece — regressa. E, muitas vezes, regressa disfarçada, mais perigosa e sedutora.

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