Resumo
- Do Texas a Tóquio, de Paris a Telavive, milhares de quilómetros se unem através de contratos, investimentos e cadeias de fornecimento.
- A Palantir fornece software de análise preditiva e segmentação de perfis de risco – um sistema automatizado de decisão com implicações mortais.
- A reconstrução e a demolição em Gaza são dois lados da mesma moeda – e ambos rendem.
Há uma geografia invisível que desenha a ocupação da Palestina: não é feita de muros, mas de sedes corporativas. Do Texas a Tóquio, de Paris a Telavive, milhares de quilómetros se unem através de contratos, investimentos e cadeias de fornecimento. Esta rede, exposta no relatório da ONU From economy of occupation to economy of genocide, revela o verdadeiro mapa do poder: o mapa das empresas que lucram com o genocídio em Gaza.
Durante demasiado tempo, a narrativa pública centrou-se na responsabilidade de Estados e exércitos. Mas a ocupação é também uma infraestrutura corporativa. Cada empresa envolvida – seja no fornecimento de drones, software de vigilância, maquinaria de demolição ou cimento para colonatos – contribui materialmente para a perpetuação da opressão.
Este artigo é uma cartografia da cumplicidade. Um mapeamento de interesses, lucros e responsabilidades.
Empresas de armamento: vender guerra, testar em Gaza
As empresas de defesa são, sem surpresa, protagonistas. A israelita Elbit Systems, por exemplo, fornece drones Hermes e sistemas de vigilância usados nos bombardeamentos de Gaza. A Rafael Advanced Defense Systems fabrica o míssil Spike, amplamente utilizado nas ofensivas de 2023 e 2024.
Ambas exportam tecnologia para países da NATO, com destaque para Alemanha, Reino Unido, Itália e EUA. Esta exportação é reforçada pelo carimbo tested in combat, validando os sistemas com a “experiência” acumulada em Gaza.
Empresas norte-americanas como Lockheed Martin, Raytheon e Boeing também estão envolvidas. Fornecem sistemas de mísseis, peças de aeronaves e armamento de precisão. Muitas vezes, os componentes passam por intermediários, evitando sanções ou regras de exportação sensíveis.
Big Tech: o software da repressão
Google e Amazon, através do Project Nimbus, estão directamente ligadas ao fornecimento de inteligência artificial ao Ministério da Defesa israelita. Estas ferramentas permitem desde reconhecimento facial até cruzamento de dados comportamentais, usados para seleccionar alvos ou bloquear movimentos.
A Microsoft, por seu lado, oferece suporte técnico a bases de dados biométricos de civis palestinianos. A Palantir fornece software de análise preditiva e segmentação de perfis de risco – um sistema automatizado de decisão com implicações mortais.
Estas empresas operam globalmente, e os seus lucros não foram afectados pelas denúncias. Pelo contrário: os contratos com Israel impulsionaram o valor das acções.
Máquinas e betão: a engenharia do apagamento
A reconstrução e a demolição em Gaza são dois lados da mesma moeda – e ambos rendem. A Caterpillar fornece escavadoras modificadas usadas na destruição de casas palestinianas. A Volvo, a JCB e a Hyundai também são identificadas como fornecedoras de maquinaria pesada usada em operações militares.
Empresas como a Heidelberg Materials (Alemanha) estão envolvidas na exploração de recursos naturais em territórios ocupados e no fornecimento de cimento para obras em colonatos ilegais. A israelita Shapir Engineering é contratada repetidamente para projectos nos colonatos e beneficia de fundos internacionais desviados sob o pretexto de “infraestruturas civis”.
Banca e seguros: o combustível invisível
Bancos como o HSBC, Barclays, Bank Hapoalim, Deutsche Bank e Citigroup aparecem como investidores directos ou financiadores de empresas activas na ocupação. Além disso, fundos de pensões públicos da Noruega, Suécia, Países Baixos e Canadá continuam a deter participações em empresas listadas no relatório da ONU.
A seguradora francesa AXA foi denunciada por financiar fabricantes de armas e construtoras de colonatos, sem qualquer medida de mitigação. Muitos destes actores escondem-se por detrás de fundos indexados ou carteiras passivas, dificultando a rastreabilidade das suas decisões.
Colonatos como modelo económico
Os colonatos não são apenas habitação ilegal – são activos de investimento. Imobiliárias como a Africa Israel Investments ou a Amana vendem propriedades em territórios ocupados como “oportunidades de alto retorno”, com marketing destinado a judeus da diáspora e investidores especulativos.
Estes empreendimentos são construídos com subsídios estatais israelitas, infraestrutura militar de apoio e financiamento externo. São a face urbana da limpeza étnica – bairros com jardins, piscinas e segurança armada, erguidos sobre os escombros de aldeias palestinianas.
Conclusão: nomear é resistir
O que este mapeamento revela é perturbador, mas essencial: o genocídio em Gaza não é obra de um exército isolado. É sustentado por uma cadeia global de fornecimento, investimento e legitimidade institucional. As empresas nomeadas não são “neutras” nem “apolíticas” – são cúmplices materiais.
Nomeá-las é o primeiro passo para enfrentá-las. Para que cada contrato assinado, cada produto vendido, cada acção negociada, seja reconhecida pelo que é: um elo na engrenagem de um crime de proporções históricas.
A ocupação tem rosto, máquina, sede e logótipo. Já não é possível fingir que não vemos.