Memórias Fragmentadas: As Sequelas Psicológicas da Tortura da PIDE

“Durante anos, acordava a meio da noite a gritar. Mas não sabia porquê.” O testemunho é de Ana P., filha de um preso político torturado pela PIDE em 1967. O pai morreu em 1993 sem nunca ter conseguido falar do que viveu na António Maria Cardoso. O trauma foi-lhe tatuado na carne e herdado, em silêncio, pela família. E não é caso único. Milhares de vítimas da repressão salazarista carregaram feridas invisíveis, quase sempre ignoradas — pela sociedade, pelo Estado, pela própria história.
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Repressão em Família: Quando Pais, Filhos e Irmãos Foram Delatados à PIDE

“A delação partiu do meu irmão. Dormíamos no mesmo quarto. Crescemos juntos. Mas ele tinha medo. E eu paguei por isso.” O testemunho é de António (nome fictício), detido em 1969 pela PIDE após ter sido denunciado por um familiar directo. A sua história não é única. Durante o Estado Novo, a repressão não se limitou a infiltrar partidos, universidades ou fábricas — entrou pelas casas, desfez laços de sangue, e transformou famílias em campos de suspeita, silêncio e traição.
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Quando o Silêncio Mata: O Papel dos Médicos ao Serviço da PIDE

“Não há marcas visíveis. Está apto para interrogatório.” A frase, presente em vários relatórios da polícia política portuguesa, não era dita por um agente da PIDE. Era, na maioria dos casos, escrita ou confirmada por um médico. No Estado Novo, a medicina não foi sempre neutra. Em muitas situações, foi cúmplice — cúmplice activa ou cúmplice por omissão. O corpo clínico das prisões políticas e dos centros de detenção desempenhou um papel central na manutenção da repressão.
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Juventude Vigiada: Crescer com Medo no Portugal de Salazar

Como era crescer em Portugal com os olhos da polícia política sempre à espreita? Durante décadas, a juventude portuguesa viveu sob a sombra de um regime que controlava até os pensamentos. Entre fichas da PIDE, a presença constante da Mocidade Portuguesa e um sistema educativo formatado para obedecer, a liberdade era uma miragem. Esta reportagem mergulha no quotidiano de quem foi jovem sob o Estado Novo, resgatando memórias de repressão, resistência e sobrevivência.
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A PIDE no Feminino: As Mulheres na Máquina da Repressão

Durante décadas, a imagem dominante da PIDE foi a de homens de fato escuro, voz grave e mãos calejadas pela tortura. Mas a história é mais complexa — e mais incómoda. Na máquina repressiva do Estado Novo, também houve mulheres. Não apenas vítimas, mas colaboradoras, informadoras, funcionárias e cúmplices activas do sistema opressor. O seu papel tem sido pouco estudado, raramente citado nos manuais escolares, praticamente ausente nos discursos oficiais da memória democrática.
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Educação para a Cegueira: O Fascismo nos Manuais Escolares Portugueses

O que se aprende — ou não se aprende — nas escolas diz muito sobre a forma como uma nação encara o seu passado. Em Portugal, o ensino do regime fascista do Estado Novo continua envolto num manto de ambiguidade, eufemismo e omissão. Em pleno século XXI, os manuais escolares e os programas curriculares tratam quase com pudor um dos períodos mais longos e repressivos da história portuguesa contemporânea.
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A Ferida da Impunidade: Como a Democracia Portuguesa Falhou às Suas Vítimas

Portugal foi uma das últimas potências coloniais a abandonar o seu império. E foi também um dos poucos países democráticos a não instaurar uma justiça de transição capaz de lidar com os crimes cometidos pelo regime anterior – em particular, nas suas colónias. A reabertura dos arquivos da PIDE em Moçambique expõe uma realidade chocante: a repressão foi documentada, denunciada, até formalmente investigada… mas nunca julgada.
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