Na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, Portugal acordava em insurreição. Mas, nas horas anteriores ao colapso da ditadura, a máquina repressiva da PIDE ainda operava com letal precisão.
A última vítima mortal da polícia política do Estado Novo morreu a poucas horas da Revolução triunfar. Não foi um acidente do destino. Foi um acto deliberado — e impune.
Browsing Tag
PIDE
25 posts
As Mulheres Que Escreveram Contra a PIDE: Jornalistas, Poetas e Romancistas Silenciadas
Na ditadura portuguesa, escrever era um acto de coragem. Escrever como mulher, ainda mais.
Num tempo em que a palavra era vigiada e o pensamento patrulhado, houve mulheres que resistiram com a caneta, com a máquina de escrever e com o corpo. Pagaram o preço da ousadia: vigilância, censura, prisão, exílio e silenciamento histórico.
Memórias Fragmentadas: As Sequelas Psicológicas da Tortura da PIDE
“Durante anos, acordava a meio da noite a gritar. Mas não sabia porquê.”
O testemunho é de Ana P., filha de um preso político torturado pela PIDE em 1967. O pai morreu em 1993 sem nunca ter conseguido falar do que viveu na António Maria Cardoso. O trauma foi-lhe tatuado na carne e herdado, em silêncio, pela família. E não é caso único. Milhares de vítimas da repressão salazarista carregaram feridas invisíveis, quase sempre ignoradas — pela sociedade, pelo Estado, pela própria história.
Repressão em Família: Quando Pais, Filhos e Irmãos Foram Delatados à PIDE
“A delação partiu do meu irmão. Dormíamos no mesmo quarto. Crescemos juntos. Mas ele tinha medo. E eu paguei por isso.”
O testemunho é de António (nome fictício), detido em 1969 pela PIDE após ter sido denunciado por um familiar directo. A sua história não é única. Durante o Estado Novo, a repressão não se limitou a infiltrar partidos, universidades ou fábricas — entrou pelas casas, desfez laços de sangue, e transformou famílias em campos de suspeita, silêncio e traição.
Quando o Silêncio Mata: O Papel dos Médicos ao Serviço da PIDE
“Não há marcas visíveis. Está apto para interrogatório.”
A frase, presente em vários relatórios da polícia política portuguesa, não era dita por um agente da PIDE. Era, na maioria dos casos, escrita ou confirmada por um médico. No Estado Novo, a medicina não foi sempre neutra. Em muitas situações, foi cúmplice — cúmplice activa ou cúmplice por omissão. O corpo clínico das prisões políticas e dos centros de detenção desempenhou um papel central na manutenção da repressão.
Juventude Vigiada: Crescer com Medo no Portugal de Salazar
Como era crescer em Portugal com os olhos da polícia política sempre à espreita? Durante décadas, a juventude portuguesa viveu sob a sombra de um regime que controlava até os pensamentos. Entre fichas da PIDE, a presença constante da Mocidade Portuguesa e um sistema educativo formatado para obedecer, a liberdade era uma miragem. Esta reportagem mergulha no quotidiano de quem foi jovem sob o Estado Novo, resgatando memórias de repressão, resistência e sobrevivência.
PIDE nas Escolas: Como a Ditadura Controlava a Educação e os Alunos
“A escola era o lugar onde se ensinava o silêncio.”
A frase é de um antigo professor do Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, e sintetiza o ambiente repressivo vivido por milhares de alunos e docentes durante o Estado Novo. Longe de ser apenas um campo de formação académica, a escola foi uma extensão ideológica da ditadura — vigiada, infiltrada e disciplinada pela PIDE.
A PIDE no Feminino: As Mulheres na Máquina da Repressão
Durante décadas, a imagem dominante da PIDE foi a de homens de fato escuro, voz grave e mãos calejadas pela tortura. Mas a história é mais complexa — e mais incómoda. Na máquina repressiva do Estado Novo, também houve mulheres. Não apenas vítimas, mas colaboradoras, informadoras, funcionárias e cúmplices activas do sistema opressor. O seu papel tem sido pouco estudado, raramente citado nos manuais escolares, praticamente ausente nos discursos oficiais da memória democrática.
Educação para a Cegueira: O Fascismo nos Manuais Escolares Portugueses
O que se aprende — ou não se aprende — nas escolas diz muito sobre a forma como uma nação encara o seu passado. Em Portugal, o ensino do regime fascista do Estado Novo continua envolto num manto de ambiguidade, eufemismo e omissão. Em pleno século XXI, os manuais escolares e os programas curriculares tratam quase com pudor um dos períodos mais longos e repressivos da história portuguesa contemporânea.
A Ferida da Impunidade: Como a Democracia Portuguesa Falhou às Suas Vítimas
Portugal foi uma das últimas potências coloniais a abandonar o seu império. E foi também um dos poucos países democráticos a não instaurar uma justiça de transição capaz de lidar com os crimes cometidos pelo regime anterior – em particular, nas suas colónias. A reabertura dos arquivos da PIDE em Moçambique expõe uma realidade chocante: a repressão foi documentada, denunciada, até formalmente investigada… mas nunca julgada.