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Resumo

  • Estes princípios estão inscritos na Doutrina Social da Igreja, que coloca a dignidade da pessoa humana e a solidariedade no centro da ação pastoral.
  • O Patriarcado de Lisboa, por exemplo, apelou em 2024 a “um acolhimento responsável e fraterno dos que chegam”, enquanto a Diocese do Porto criou uma comissão de apoio a refugiados.
  • Há quem organize ações de integração — aulas de português, apoio na procura de emprego — e faça da homilia um espaço para recordar a obrigação cristã de acolher.

Entre o silêncio e a denúncia, a Igreja Católica em Portugal vive um dilema: como reagir quando o discurso político e social contra migrantes e minorias se torna cada vez mais audível? Nos últimos três anos, as mensagens vindas de Roma têm sido claras, mas a sua tradução no território português está longe de ser uniforme.

Mensagens de Roma

O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2022, foi taxativo: “Os migrantes não são invasores, a sua contribuição é essencial para o crescimento humano e espiritual das comunidades de acolhimento.” O pontífice insiste numa “cultura do encontro” e na rejeição do medo como motor da política.
Estes princípios estão inscritos na Doutrina Social da Igreja, que coloca a dignidade da pessoa humana e a solidariedade no centro da ação pastoral.

A voz dos bispos

Entre 2023 e 2025, algumas dioceses portuguesas publicaram notas pastorais contra o racismo e a xenofobia. O Patriarcado de Lisboa, por exemplo, apelou em 2024 a “um acolhimento responsável e fraterno dos que chegam”, enquanto a Diocese do Porto criou uma comissão de apoio a refugiados.
Mas nem todas as conferências diocesanas se pronunciaram. Em várias regiões, a ausência de declarações formais contrasta com a crescente visibilidade de discursos hostis a migrantes no espaço público.

Nas paróquias: terreno dividido

Em entrevistas realizadas a párocos de diferentes zonas do país, surgem visões divergentes. Há quem organize ações de integração — aulas de português, apoio na procura de emprego — e faça da homilia um espaço para recordar a obrigação cristã de acolher. Outros preferem evitar o tema, receando divisões entre paroquianos ou críticas públicas.
Nalguns casos, a proximidade política de fiéis com forças anti-imigração influencia o tom e a agenda local.

Exemplos de boas práticas

No Alentejo, uma paróquia rural criou um programa de voluntariado que juntou agricultores locais e migrantes sazonais para a reabilitação de espaços públicos. Na Área Metropolitana de Lisboa, grupos paroquiais têm acolhido famílias deslocadas por conflitos armados, garantindo habitação e apoio escolar.
Estas experiências mostram que a ação concreta pode coexistir com o silêncio institucional, embora a visibilidade seja desigual.

O silêncio como mensagem

Especialistas em sociologia da religião lembram que a ausência de uma posição também comunica. “Numa altura em que o discurso xenófobo cresce, não falar pode ser interpretado como aceitação tácita”, sublinha uma investigadora da Universidade Católica.
A questão para a Igreja portuguesa é, portanto, dupla: como alinhar-se com a mensagem universal de Roma e como fazê-lo num país onde o campo político está cada vez mais polarizado.

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