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Resumo

  • Organizações de monitorização de discurso de ódio, como a Hope Not Hate no Reino Unido e o Amadeu Antonio Stiftung na Alemanha, alertam que esta estratégia cria uma “fachada moderada” que dificulta a identificação de agendas autoritárias.
  • Na França, o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen suavizou o discurso anti-imigração, mas mantém políticas que restringem a entrada e permanência de estrangeiros.
  • “Quando a retórica autoritária se torna aceitável, a fronteira entre o democrático e o antidemocrático fica difusa”, alerta o sociólogo francês Nonna Mayer.

Partidos de extrema-direita na Europa estão a modernizar a imagem sem abandonar as bases ideológicas excludentes. Sob uma comunicação polida, líderes como Giorgia Meloni, Marine Le Pen e representantes da AfD alemã procuram afastar o estigma histórico, mas mantêm projetos que limitam direitos e reforçam divisões sociais.

Investigadores de movimentos radicais apontam que esta “metamorfose estratégica” visa ampliar o alcance eleitoral. Discursos abertamente xenófobos e autoritários cedem lugar a mensagens que exploram temas como soberania económica, proteção cultural e segurança — apresentados como consensuais, mas sustentados por políticas restritivas e de exclusão.

“A adaptação discursiva é calculada. A retórica moderada serve para entrar no jogo político institucional sem perder o núcleo ideológico”, explica a politóloga Cas Mudde, referência no estudo do populismo europeu.


Comunicação digital e redes de apoio

A mudança de tom vem acompanhada de uma profissionalização na comunicação. Plataformas como Facebook, TikTok e YouTube são usadas para difundir conteúdos segmentados, muitas vezes com mensagens distintas para públicos diferentes. Enquanto o eleitor tradicional ouve promessas de estabilidade, grupos radicais recebem mensagens codificadas que reforçam a identidade extremista.

Organizações de monitorização de discurso de ódio, como a Hope Not Hate no Reino Unido e o Amadeu Antonio Stiftung na Alemanha, alertam que esta estratégia cria uma “fachada moderada” que dificulta a identificação de agendas autoritárias.


Linha do tempo: da herança fascista à reinvenção populista

Na Itália, o Fratelli d’Italia, liderado por Meloni, traça raízes no Movimento Social Italiano, partido fundado por ex-fascistas no pós-guerra. Na França, o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen suavizou o discurso anti-imigração, mas mantém políticas que restringem a entrada e permanência de estrangeiros. Na Alemanha, a AfD combina euroceticismo e nacionalismo com uma base ativa de extremistas.

Apesar das diferenças nacionais, especialistas destacam um padrão: apropriação seletiva da história, rejeição de rótulos negativos e uso de causas legítimas — como emprego e segurança — para atrair eleitores moderados.


Desafios para a democracia

A penetração desta nova extrema-direita no centro do debate político pressiona partidos tradicionais a endurecer posições, normalizando pautas antes marginais. “Quando a retórica autoritária se torna aceitável, a fronteira entre o democrático e o antidemocrático fica difusa”, alerta o sociólogo francês Nonna Mayer.

Para contrapor, académicos e ONGs defendem a exposição constante das origens ideológicas destes partidos, bem como a fiscalização de discursos dissimulados. A história mostra que velhas ideias podem renascer sob novas máscaras — e que ignorar o passado pode custar caro ao futuro democrático europeu.

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