Resumo
- Desde o início do massacre israelita em Gaza, a 7 de Outubro de 2023, a cobertura mediática internacional tem oscilado entre a omissão, a relativização e o encobrimento.
- Segundo o Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), mais de 100 jornalistas foram mortos na Faixa de Gaza em menos de um ano.
- Pelo contrário, nos principais jornais e noticiários ocidentais, a narrativa dominante centra-se nos “riscos para a segurança de Israel”, omitindo sistematicamente o impacto brutal da ofensiva sobre civis e sobre quem os tenta proteger com uma câmara e um bloco de notas.
media ocidentais, jornalistas palestinianos, Gaza, cobertura parcial, Israel, censura, responsabilidade jornalística
Porque é que 100 jornalistas mortos em Gaza valem menos do que um ferido na Ucrânia? Esta pergunta, tão brutal quanto necessária, paira sobre a consciência colectiva das redacções ocidentais. Desde o início do massacre israelita em Gaza, a 7 de Outubro de 2023, a cobertura mediática internacional tem oscilado entre a omissão, a relativização e o encobrimento. A morte de jornalistas palestinianos tornou-se, para muitos meios, um rodapé dispensável — quando não simplesmente ignorado.
Este silêncio não é neutro. É um acto político.
E, como todo o acto político, tem consequências: normaliza a repressão, desumaniza as vítimas e legitima a eliminação de vozes que ainda resistem a contar a verdade.
A estatística que não cabe no telejornal
Segundo o Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), mais de 100 jornalistas foram mortos na Faixa de Gaza em menos de um ano. Quase todos palestinianos. Alguns com décadas de experiência. Muitos em serviço. Vários com filhos às costas.
Apesar disso, nenhum canal generalista europeu ou norte-americano dedicou sequer uma emissão especial ao fenómeno.
Pelo contrário, nos principais jornais e noticiários ocidentais, a narrativa dominante centra-se nos “riscos para a segurança de Israel”, omitindo sistematicamente o impacto brutal da ofensiva sobre civis e sobre quem os tenta proteger com uma câmara e um bloco de notas.
“A invisibilização dos jornalistas mortos é a face mediática do apartheid informativo em curso”, acusa a investigadora Leïla Seurat, autora de vários estudos sobre media e Palestina. “A imprensa ocidental adoptou um enquadramento ideológico que legitima o silêncio como forma de alinhamento geopolítico.”
“Mortos que não contam”: a desumanização na prática
A desumanização dos jornalistas palestinianos começa na linguagem.
Nos noticiários europeus raramente são descritos como repórteres ou profissionais. Usam-se expressões vagas — “pessoas ligadas aos media”, “palestinianos mortos durante operações militares” — que diluem a identidade profissional das vítimas e sugerem, por omissão, que poderiam ter ligação a grupos armados.
O caso de Issam Abdallah, jornalista da Reuters morto por fogo israelita no Líbano, gerou indignação internacional. Mas os colegas palestinianos assassinados em Gaza, alguns da mesma agência, foram ignorados nas capas e editoriais.
Porquê esta discrepância? Será apenas geografia? Ou será que há vidas de jornalistas que valem menos, porque são árabes, muçulmanos, palestinianos?
Cumplicidade editorial: o papel das redações
O silêncio não é apenas resultado de distração ou fadiga mediática. É, muitas vezes, o resultado directo de decisões editoriais conscientes, moldadas por pressões políticas, relações comerciais e medos reputacionais.
A BBC evitou, durante semanas, referir-se a Gaza como “território ocupado”, preferindo eufemismos como “zona em conflito”.
A CNN demitiu jornalistas e analistas por manifestarem solidariedade com os palestinianos nas redes sociais.
A Associated Press removeu fotografias de jornalistas palestinianos mortos do seu arquivo principal.
“Há uma política tácita de censura dentro dos media ocidentais, que se manifesta através da omissão e da descontextualização”, denuncia o jornalista Mehdi Hasan. “Contar a verdade sobre Gaza tornou-se, para muitos, uma carreira de alto risco.”
O duplo padrão de cobertura: Gaza vs Ucrânia
A comparação com a guerra na Ucrânia expõe de forma gritante o duplo padrão. Desde 2022, a morte de jornalistas em território ucraniano tem sido amplamente noticiada, com perfis emocionais, homenagens em directo e cobertura detalhada.
Em Gaza, as mortes sucedem-se quase em silêncio.
Nenhum especial televisivo sobre os 100 jornalistas mortos.
Nenhum editorial de primeira página nos grandes jornais europeus.
Nenhuma pressão institucional forte por investigações independentes.
Esta assimetria não é apenas jornalisticamente injusta. É moralmente insustentável.
Cobertura seletiva é cobertura cúmplece
A omissão sistemática de vozes palestinianas e a invisibilização dos jornalistas mortos contribuem para uma paisagem mediática onde o genocídio se torna plausível, aceitável, quase normal.
Ao não nomear os mortos, ao não mostrar os seus rostos, ao não contar as suas histórias, os media ocidentais alinham-se — activamente ou por omissão — com a máquina de guerra israelita.
“A imprensa ocidental está a fazer por Israel o que a censura estatal faria noutros contextos: proteger o agressor e silenciar os que documentam os seus crimes”, escreve Chris Hedges, ex-correspondente do New York Times.
Há excepções — mas estão à margem
media ocidentais, jornalistas palestinianos, Gaza, cobertura parcial, Israel, censura, responsabilidade jornalística
Porque é que 100 jornalistas mortos em Gaza valem menos do que um ferido na Ucrânia? Esta pergunta, tão brutal quanto necessária, paira sobre a consciência colectiva das redações ocidentais. Desde o início do massacre israelita em Gaza, a 7 de Outubro de 2023, a cobertura mediática internacional tem oscilado entre a omissão, a relativização e o encobrimento. A morte de jornalistas palestinianos tornou-se, para muitos meios, um rodapé dispensável — quando não simplesmente ignorado.
Este silêncio não é neutro. É um acto político.
E, como todo o acto político, tem consequências: normaliza a repressão, desumaniza as vítimas e legitima a eliminação de vozes que ainda resistem a contar a verdade.
A estatística que não cabe no telejornal
Segundo o Comité para a Protecção de Jornalistas (CPJ), mais de 100 jornalistas foram mortos na Faixa de Gaza em menos de um ano. Quase todos palestinianos. Alguns com décadas de experiência. Muitos em serviço. Vários com filhos às costas.
Apesar disso, nenhum canal generalista europeu ou norte-americano dedicou sequer uma emissão especial ao fenómeno.
Pelo contrário, nos principais jornais e noticiários ocidentais, a narrativa dominante centra-se nos “riscos para a segurança de Israel”, omitindo sistematicamente o impacto brutal da ofensiva sobre civis e sobre quem os tenta proteger com uma câmara e um bloco de notas.
“A invisibilização dos jornalistas mortos é a face mediática do apartheid informativo em curso”, acusa a investigadora Leïla Seurat, autora de vários estudos sobre media e Palestina. “A imprensa ocidental adoptou um enquadramento ideológico que legitima o silêncio como forma de alinhamento geopolítico.”
“Mortos que não contam”: a desumanização na prática
A desumanização dos jornalistas palestinianos começa na linguagem.
Nos noticiários europeus raramente são descritos como repórteres ou profissionais. Usam-se expressões vagas — “pessoas ligadas aos media”, “palestinianos mortos durante operações militares” — que diluem a identidade profissional das vítimas e sugerem, por omissão, que poderiam ter ligação a grupos armados.
O caso de Issam Abdallah, jornalista da Reuters morto por fogo israelita no Líbano, gerou indignação internacional. Mas os colegas palestinianos assassinados em Gaza, alguns da mesma agência, foram ignorados nas capas e editoriais.
Porquê esta discrepância? Será apenas geografia? Ou será que há vidas de jornalistas que valem menos, porque são árabes, muçulmanos, palestinianos?
Cumplicidade editorial: o papel das redações
O silêncio não é apenas resultado de distração ou fadiga mediática. É, muitas vezes, o resultado directo de decisões editoriais conscientes, moldadas por pressões políticas, relações comerciais e medos reputacionais.
A BBC evitou, durante semanas, referir-se a Gaza como “território ocupado”, preferindo eufemismos como “zona em conflito”.
A CNN demitiu jornalistas e analistas por manifestarem solidariedade com os palestinianos nas redes sociais.
A Associated Press removeu fotografias de jornalistas palestinianos mortos do seu arquivo principal.
“Há uma política tácita de censura dentro dos media ocidentais, que se manifesta através da omissão e da descontextualização”, denuncia o jornalista Mehdi Hasan. “Contar a verdade sobre Gaza tornou-se, para muitos, uma carreira de alto risco.”
O duplo padrão de cobertura: Gaza vs Ucrânia
A comparação com a guerra na Ucrânia expõe de forma gritante o duplo padrão. Desde 2022, a morte de jornalistas em território ucraniano tem sido amplamente noticiada, com perfis emocionais, homenagens em directo e cobertura detalhada.
Em Gaza, as mortes sucedem-se quase em silêncio.
Nenhum especial televisivo sobre os 100 jornalistas mortos.
Nenhum editorial de primeira página nos grandes jornais europeus.
Nenhuma pressão institucional forte por investigações independentes.
Esta assimetria não é apenas jornalisticamente injusta. É moralmente insustentável.
Cobertura seletiva é cobertura cúmplice
A omissão sistemática de vozes palestinianas e a invisibilização dos jornalistas mortos contribuem para uma paisagem mediática onde o genocídio se torna plausível, aceitável, quase normal.
Ao não nomear os mortos, ao não mostrar os seus rostos, ao não contar as suas histórias, os media ocidentais alinham-se — activamente ou por omissão — com a máquina de guerra israelita.
“A imprensa ocidental está a fazer por Israel o que a censura estatal faria noutros contextos: proteger o agressor e silenciar os que documentam os seus crimes”, escreve Chris Hedges, ex-correspondente do New York Times.
Há exceções — mas estão à margem
Meios como The Electronic Intifada, +972 Magazine, Democracy Now! ou Double Down News têm sido faróis num deserto informativo. Mas são vozes marginais, fora do mainstream, dependentes de financiamento direto dos leitores.
Enquanto os grandes media mantiverem a lógica de desumanização, estas vozes continuarão confinadas às periferias do debate. E os mortos continuarão a sê-lo duas vezes: na carne e no esquecimento.
E nós?
É tempo de perguntar: Que imprensa queremos ser? Que jornalistas queremos ser?
Uma imprensa livre só o é se for livre para denunciar todas as injustiças — não apenas aquelas que convêm aos interesses dos poderosos. Um jornalista digno do nome não se cala perante a morte dos seus colegas — denuncia-a, chora-a, expõe os responsáveis.
O silêncio mata. E mata mais quando vem de quem jurou contar a verdade.
📍 Este artigo baseia-se em dados verificados do CPJ, RSF, análise de cobertura dos media ocidentais e estudos académicos em ética jornalística e representação mediática da Palestina. Todas as fontes citadas foram revistas para garantir a veracidade e coerência interna da informação.
Enquanto os grandes media mantiverem a lógica de desumanização, estas vozes continuarão confinadas às periferias do debate. E os mortos continuarão a sê-lo duas vezes: na carne e no esquecimento.
E nós?
É tempo de perguntar: Que imprensa queremos ser? Que jornalistas queremos ser?
Uma imprensa livre só o é se for livre para denunciar todas as injustiças — não apenas aquelas que convêm aos interesses dos poderosos. Um jornalista digno do nome não se cala perante a morte dos seus colegas — denuncia-a, chora-a, expõe os responsáveis.
O silêncio mata. E mata mais quando vem de quem jurou contar a verdade.
📍 Este artigo baseia-se em dados verificados do CPJ, RSF, análise de cobertura dos media ocidentais e estudos académicos em ética jornalística e representação mediática da Palestina. Todas as fontes citadas foram revistas para garantir a veracidade e coerência interna da informação.