Resumo
- A guerra em Gaza não destrói apenas edifícios — está a reconfigurar alianças e a expor clivagens profundas na ordem internacional.
- resoluções sobre cessar‑fogo, ajuda humanitária, apoio ao TPI e reconhecimento da Palestina receberam votos esmagadores de países da Ásia, África e América Latina, enquanto os EUA, Israel e alguns aliados votaram contra ou abstiveram‑se.
- A África desempenha papel central, com a União Africana a condenar o “castigo colectivo de civis” e 18 países a suspenderem acordos militares com Israel.
A guerra em Gaza não destrói apenas edifícios — está a reconfigurar alianças e a expor clivagens profundas na ordem internacional. Desde Outubro de 2023, uma onda de condenações partiu do Sul Global: países africanos, asiáticos e latino‑americanos exigiram cessar‑fogo imediato, apoio às investigações do Tribunal Penal Internacional e reconhecimento da Palestina. Várias capitais romperam relações diplomáticas com Telavive ou suspenderam cooperações militares, contrastando com as hesitações das democracias ocidentais. Nas Nações Unidas, a tendência é clara: resoluções sobre cessar‑fogo, ajuda humanitária, apoio ao TPI e reconhecimento da Palestina receberam votos esmagadores de países da Ásia, África e América Latina, enquanto os EUA, Israel e alguns aliados votaram contra ou abstiveram‑se.
A África desempenha papel central, com a União Africana a condenar o “castigo colectivo de civis” e 18 países a suspenderem acordos militares com Israel. Na América Latina, países como Brasil, Colômbia, Bolívia, Chile e México cortaram relações diplomáticas e boicotaram contratos de armamento; o Brasil patrocinou resoluções no Conselho de Segurança, unindo forças políticas divergentes. Na Ásia e no mundo árabe, multiplicam‑se iniciativas regionais para ajuda humanitária e pressão política; a Liga Árabe criou um fundo de reconstrução e mesmo aliados dos EUA endureceram o tom. A crise acelerou a emergência de uma ordem multipolar: novas alianças, redes financeiras alternativas e o reconhecimento da Palestina por França, Irlanda, Noruega e Eslovénia mostram fissuras no bloco ocidental. Conclusão: o Sul Global deixou de ser espectador e reivindica liderança moral; ao Ocidente cabe adaptar‑se a esta geografia multipolar ou arriscar a irrelevância.