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Resumo

  • Os estudantes exigem o corte de relações institucionais com Israel e o desinvestimento de fundos universitários em empresas que lucram com a guerra.
  • Em Portugal, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Universidade do Minho e a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Coimbra aprovaram moções de solidariedade e acolheram acções simbólicas.
  • Em Lisboa, o Terreiro do Paço voltou a acolher milhares num protesto convocado por movimentos como a Mudar o Mundo, a Associação de Estudantes Palestinianos em Portugal e o SOS Racismo.

Do Chile à África do Sul, de Lisboa a Nova Iorque, a solidariedade com o povo palestiniano está a mobilizar milhares de pessoas. Movimentos estudantis, sindicatos, artistas e organizações de direitos humanos reforçam protestos contra o genocídio em Gaza e exigem o fim da cumplicidade internacional com a ocupação israelita.

A brutal ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, iniciada em Outubro de 2023, desencadeou uma onda de acções sem precedentes em dezenas de cidades. O que começou por ser uma indignação pontual evoluiu para uma mobilização global sustentada, com acampamentos universitários, manifestações semanais e campanhas de boicote a empresas cúmplices da ocupação.

Universidades em pé de guerra

Nos Estados Unidos, mais de 80 universidades — incluindo Columbia, Harvard, UCLA e NYU — foram palco de acampamentos estudantis em 2024 e 2025. Os estudantes exigem o corte de relações institucionais com Israel e o desinvestimento de fundos universitários em empresas que lucram com a guerra. Em muitos casos, as reitorias responderam com repressão policial, suspensões e detenções, o que gerou ainda mais solidariedade.

Na Europa, universidades em Londres, Berlim, Amesterdão, Paris, Dublin e Lisboa seguiram o exemplo. Em Portugal, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Universidade do Minho e a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Coimbra aprovaram moções de solidariedade e acolheram acções simbólicas. Estudantes penduraram faixas com frases como “Do Tejo ao Jordão, a luta é pela libertação” e organizaram ciclos de cinema, debates e vigílias.

Artistas, escritores e sindicatos juntam-se à causa

A cultura também tem sido terreno de resistência. Em Maio de 2025, mais de 900 artistas portugueses subscreveram uma carta aberta a exigir o fim da colaboração cultural com instituições israelitas. Entre os signatários contam-se os músicos Ana Moura e Capicua, o escritor José Luís Peixoto, o encenador Ricardo Neves-Neves e a actriz Beatriz Batarda.

A iniciativa juntou-se à campanha “Palestina Livre, Cultura Viva”, que apela ao cancelamento de parcerias com festivais, editoras e fundações que mantenham vínculos com Israel ou com empresas envolvidas na ocupação. No estrangeiro, o cineasta Ken Loach, a escritora Arundhati Roy e o músico Roger Waters têm sido vozes constantes na denúncia do genocídio.

Os sindicatos também marcaram posição. A central sindical sul-africana COSATU, herdeira da luta contra o apartheid, lidera uma campanha de boicote ao porto de Durban, onde navios com armamento para Israel foram impedidos de descarregar. Em Espanha, sindicatos de estivadores recusaram-se a movimentar contentores com origem ou destino israelita. Em Portugal, o CESP e a Fenprof participaram em manifestações e apelaram à suspensão da cooperação militar e académica com Israel.

A rua não se cala

As manifestações continuam a crescer. Só em Abril e Maio de 2025, realizaram-se mais de 400 protestos em cidades de todos os continentes, segundo dados do movimento Global Solidarity for Palestine. Na África do Sul, a cidade do Cabo encheu-se com mais de 100 mil pessoas, enquanto em Londres se repetem marchas com mais de meio milhão. Em Lisboa, o Terreiro do Paço voltou a acolher milhares num protesto convocado por movimentos como a Mudar o Mundo, a Associação de Estudantes Palestinianos em Portugal e o SOS Racismo.

Frases como “Do rio ao mar, Palestina será livre”, “Israel apartheid state” ou “Silêncio é cumplicidade” ecoam em praças e ruas, contrariando o discurso oficial de “equidistância” por parte de vários governos europeus.

Boicote, desinvestimento e sanções: uma estratégia global

O movimento BDS — Boicote, Desinvestimento e Sanções, inspirado na luta contra o apartheid na África do Sul, tem ganho nova força. A campanha, lançada em 2005 por organizações palestinianas, apela a:

  • Não comprar produtos israelitas ou de empresas cúmplices;
  • Desinvestir de fundos e instituições que financiem a ocupação;
  • Impor sanções diplomáticas, culturais e económicas a Israel até que este cumpra o direito internacional.

O BDS já conseguiu vitórias significativas: universidades como a SOAS (Londres), a Universidade de Barcelona e a Universidade de Manchester cortaram relações com instituições israelitas. Cidades como Liège (Bélgica) e Barcelona suspenderam acordos de cooperação. Até artistas internacionais, como Lorde ou Lana Del Rey, cancelaram actuações em Israel.

Um movimento interseccional e global

A solidariedade com a Palestina não nasce no vazio. Está interligada com lutas por justiça climática, igualdade racial, direitos das mulheres e descolonização. Movimentos indígenas, colectivos antirracistas e feministas denunciam a ocupação da Palestina como parte de um sistema global de dominação e violência.

“Libertar a Palestina é libertar o mundo de todas as formas de opressão”, diz a activista Noura Erakat, jurista palestiniana-americana. “A luta pela Palestina é também uma luta por dignidade, memória, pertença.”

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