Resumo
- A chegada dos membros da flotilha humanitária que tentava romper simbolicamente o bloqueio a Gaza foi marcada por uma receção emotiva, entre abraços, lágrimas e gritos de “liberdade para Gaza.
- Entre os relatos, destaca-se a decisão de vários ativistas estrangeiros, nomeadamente do Brasil e da Tunísia, de iniciarem uma greve de fome durante a detenção.
- Numa nota oficial divulgada esta manhã, o MNE reafirmou a “preocupação com o bem-estar dos cidadãos portugueses” e o “acompanhamento contínuo do processo junto das autoridades israelitas”, evitando, no entanto, qualquer condenação explícita da ação militar contra a flotilha.
Lisboa, 6 de Outubro de 2025 – Os ativistas portugueses Mariana Mortágua, Sofia Aparício, Miguel Duarte e Diogo Chaves chegaram ontem ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, trazendo na bagagem mais do que relatos de detenção: uma denúncia contundente das práticas israelitas contra missões civis e um renovado compromisso com a solidariedade internacional. “Não nos vão parar. Gaza não está sozinha”, afirmou Mariana Mortágua, ainda visivelmente abalada após dias de detenção em território israelita.
A chegada dos membros da flotilha humanitária que tentava romper simbolicamente o bloqueio a Gaza foi marcada por uma receção emotiva, entre abraços, lágrimas e gritos de “liberdade para Gaza!” por familiares, ativistas e representantes de organizações de direitos humanos. Nas primeiras declarações públicas, os quatro portugueses foram unânimes: enfrentaram maus-tratos, intimidação e privação, mas não recuam.
“Fomos tratados como criminosos, mas a nossa única arma era a solidariedade,” resumiu Miguel Duarte, ativista com histórico de ações humanitárias no Mediterrâneo. “Sem acesso a comunicação, alimentação escassa e sob constante ameaça psicológica, resistimos porque sabíamos o que estávamos a denunciar: uma política de fome e cerco imposta a um povo inteiro.”
“Não somos ilegais, somos civis em missão de paz”
A defesa da legalidade da missão da flotilha foi ponto comum nas intervenções de todos os que tomaram a palavra. Diogo Chaves, sociólogo, sublinhou que “esta não era uma ação encapotada nem clandestina. Partimos com a chancela de várias organizações internacionais, apoiados por juristas e defensores de direitos humanos de dezenas de países.” Segundo os ativistas, a embarcação integrava cidadãos de mais de 15 nacionalidades, incluindo médicos, jornalistas e antigos diplomatas.
Sofia Aparício, modelo e ativista, enfatizou o carácter simbólico da ação: “Queríamos romper o silêncio. Que o mundo se lembre de Gaza, todos os dias. Que os governos tomem posição. Que os crimes de guerra não passem em branco.”
Entre os relatos, destaca-se a decisão de vários ativistas estrangeiros, nomeadamente do Brasil e da Tunísia, de iniciarem uma greve de fome durante a detenção. A brasileira Lúcia Costa, ao lado de outros recém-libertados, explicou: “Recusámos a alimentação que nos davam em protesto. Não só pelo que nos foi feito, mas pelo que Israel impõe ao povo palestiniano: fome total como arma de guerra.”
Famílias acusam Israel de “sequestro” e exigem resposta diplomática
No exterior do aeroporto, familiares e representantes políticos reforçaram as acusações. Cartazes com frases como “Sequestrados por denunciar o bloqueio” e “A nossa solidariedade não será silenciada” pontuavam o ambiente. Jorge Chaves, pai de Diogo, acusou o governo português de “tibieza diplomática” e apelou a uma posição mais firme junto das autoridades israelitas.
Apesar das pressões, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) optou por uma reação prudente. Numa nota oficial divulgada esta manhã, o MNE reafirmou a “preocupação com o bem-estar dos cidadãos portugueses” e o “acompanhamento contínuo do processo junto das autoridades israelitas”, evitando, no entanto, qualquer condenação explícita da ação militar contra a flotilha.
A esquerda parlamentar, em particular o Bloco de Esquerda e o PCP, reagiu de forma contundente. Catarina Martins, em declarações aos jornalistas, afirmou que “não há neutralidade possível perante crimes de guerra” e exigiu ao governo que reconheça formalmente a ilegalidade do bloqueio a Gaza. Já João Oliveira, do PCP, recordou que “estas missões existem porque a comunidade internacional falha há décadas em pôr termo à ocupação.”
“A flotilha vai continuar. Gaza merece mais do que palavras”
Questionados sobre os próximos passos, os ativistas portugueses foram claros: haverá novas missões. “Não há retorno possível. A nossa consciência está com os que resistem em Gaza todos os dias,” afirmou Mariana Mortágua. Sofia Aparício completou: “Se voltarmos ao mar, será com mais barcos, mais vozes e mais olhos do mundo.”
As redes sociais dos ativistas foram inundadas de mensagens de apoio nas últimas horas. Vídeos das declarações no aeroporto já somam milhares de visualizações e partilhas, acompanhados da hashtag #GazaLivre e apelos à libertação dos restantes detidos da flotilha que permanecem sob custódia israelita.
O coletivo que organizou a missão anunciou entretanto que irá submeter queixa formal à ONU e aos tribunais internacionais por violação do direito marítimo, sequestro e repressão a ações humanitárias. Está também previsto um protesto internacional sincronizado nas próximas 48 horas, com manifestações marcadas em Lisboa, Paris, São Paulo e Túnis.
Até quando o silêncio internacional?
A ausência de uma posição clara por parte do governo português e de muitas capitais europeias levanta uma questão incómoda: até quando será tolerada a repressão sistemática de missões humanitárias? O caso da flotilha é mais do que um episódio isolado. É o retrato de uma comunidade internacional que, perante um bloqueio com consequências devastadoras, escolhe, demasiadas vezes, a passividade.
A flotilha regressa, mas não recua. E os que ontem chegaram a Lisboa não regressaram apenas do mar – regressaram de um território onde a humanidade é posta à prova diariamente.
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