Resumo
- O que deveria ter sido uma rotina tranquila transformou-se num pesadelo para Guilherme “Gui” Silva, 35 anos, detido por agentes do Serviço de Imigração e Controlo de Alfândegas (ICE) quando se dirigia para buscar a filha de quatro anos.
- Silva, natural do Brasil e sem qualquer registo criminal ou mandado em aberto, foi detido em Friday Harbor, no estado de Washington, por alegado incumprimento de visto — embora as autoridades tenham dado informações contraditórias sobre se seria o de trabalho ou o de viagem.
- Com o nascimento do filho previsto para outubro, Rachel enfrenta agora a possibilidade de dar à luz sem o apoio do marido — um cenário que considera “cruel e desnecessário”.
Guilherme “Gui” Silva, cidadão brasileiro e ex-advogado, foi detido por agentes do ICE nos EUA a dias do nascimento do segundo filho. A sua mulher, Rachel Leidig, denuncia abuso de autoridade e lança apelo à opinião pública.
Washington, EUA – 11 de Julho de 2025. O que deveria ter sido uma rotina tranquila transformou-se num pesadelo para Guilherme “Gui” Silva, 35 anos, detido por agentes do Serviço de Imigração e Controlo de Alfândegas (ICE) quando se dirigia para buscar a filha de quatro anos. Segundo o testemunho da sua esposa, Rachel Leidig, grávida de sete meses, os agentes estavam mascarados e agiram com violência injustificada.
Silva, natural do Brasil e sem qualquer registo criminal ou mandado em aberto, foi detido em Friday Harbor, no estado de Washington, por alegado incumprimento de visto — embora as autoridades tenham dado informações contraditórias sobre se seria o de trabalho ou o de viagem. A detenção ocorreu no mesmo momento em que o casal, recém-casado em abril, finalizava o processo legal para obtenção do green card, com um pedido de reagrupamento familiar (formulário I-130) submetido por Rachel, cidadã norte-americana.
“Ele sabe que estou grávida de sete meses. Só quero o meu marido aqui comigo, para este momento que deveria ser de amor e não de trauma”, partilhou Leidig à revista People.
Detenção arbitrária e comportamento abusivo
De acordo com Leidig, que foi informada pelo próprio marido por telefone após a detenção, Silva foi surpreendido por seis veículos em estrada privada. Tentou filmar a abordagem, mas foi imobilizado e teve o telemóvel confiscado. “Os agentes brincavam, tiravam fotos do Gui, da ilha, faziam piadas. Foi tudo menos profissional”, denuncia Rachel.
Uma vez detido, Silva foi algemado com correntes dos tornozelos aos pulsos, como se fosse um criminoso perigoso. Ainda não houve qualquer explicação pública clara por parte do ICE ou do Departamento de Segurança Interna (DHS), apesar de múltiplos pedidos de esclarecimento por parte da imprensa.
Uma família dividida
Silva, que dividia a sua vida entre a Califórnia e San Juan Island para estar próximo da filha de uma relação anterior, preparava-se para mudar-se definitivamente para Sausalito com Rachel. O casal vive um amor que começou num concerto em São Francisco em 2023 e culminou em casamento, planeamento familiar e projetos artísticos — ele, pintor muralista, ela, maquilhadora.
“Qualquer pessoa que o conhece, gosta dele imediatamente. É inteligente, gentil, um verdadeiro ser humano íntegro”, disse Rachel, visivelmente emocionada. A última vez que estiveram juntos foi numa consulta médica, duas semanas antes da detenção.
Em vez do fim de semana em família, Rachel embarcou num voo de emergência para Washington, onde tenta acompanhar o processo e garantir apoio legal. Silva permanece detido em Tacoma, aguardando audiência judicial no final de julho.
O preço da deportação: vidas despedaçadas
Com o nascimento do filho previsto para outubro, Rachel enfrenta agora a possibilidade de dar à luz sem o apoio do marido — um cenário que considera “cruel e desnecessário”. Uma amiga lançou uma campanha no GoFundMe, que já angariou mais de 70 mil dólares para despesas legais e compensação pela quebra de rendimento familiar.
A história do casal é mais uma peça num quadro cada vez mais crítico sobre as práticas do ICE e o impacto das políticas migratórias nos Estados Unidos. Casos de detenções arbitrárias, separações familiares e falta de transparência nos processos são frequentes. Em muitos deles, como neste, não há crime — apenas atrasos burocráticos e inconsistências nos vistos, usados como pretexto para ações desproporcionadas.
“Ensinar o nosso filho a estar do lado certo da História”
A mensagem de Rachel é clara: “O Gui não é um criminoso. Nunca foi. Eles não se importam com quem agarram. Estão a destruir vidas, famílias. E é isso que me move: o desejo de justiça e de mostrar ao nosso filho que vale sempre a pena lutar, mesmo quando é difícil.”
Este caso revela o lado humano — muitas vezes invisível — das políticas de imigração norte-americanas. Num momento em que se esperava carinho e união, há separação e sofrimento. O nome de Guilherme Silva junta-se agora a tantos outros de pessoas que, apesar de seguirem processos legais, se veem subitamente privadas dos seus direitos e da sua dignidade.