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Resumo

  • SÃO FRANCISCO, 20 Abril 2025 – Al Gore lançou duras críticas à Administração Trump no arranque da Climate Week em São Francisco, acusando o antigo Presidente dos EUA de estar a minar o progresso climático e a democracia norte-americana.
  • Entre as afirmações que criticou, destacou a negação da crise climática, a desvalorização das energias renováveis e o uso de tecnologias futuristas – como máquinas de captura de carbono – como desculpa para não reduzir as emissões.
  • Gore advertiu também para o risco de fluxos migratórios em massa – até mil milhões de pessoas até ao final do século, segundo a Lancet – e o impacto social e político que tal poderá ter, incluindo a ascensão de populismos autoritários que exploram o medo e a xenofobia.

FUNDO | CLIMA E POLÍTICA

SÃO FRANCISCO, 20 Abril 2025 – Al Gore lançou duras críticas à Administração Trump no arranque da Climate Week em São Francisco, acusando o antigo Presidente dos EUA de estar a minar o progresso climático e a democracia norte-americana. Numa intervenção emotiva, o ex-vice-presidente e activista ambiental traçou paralelismos históricos inquietantes e apelou a uma mobilização colectiva contra o que classificou como “negacionismo disfarçado de realismo climático”.

A intervenção decorreu no Exploratorium, diante de uma plateia repleta de activistas, cientistas, investidores e políticos. Gore não poupou elogios aos anfitriões – nomeadamente à organização Climate Base – nem à “extraordinária” Nancy Pelosi, presente no evento. Mas o tom rapidamente ganhou intensidade.

“Estamos perante uma emergência nacional para a democracia e uma emergência global para o clima”, declarou, sublinhando que os primeiros sinais da nova administração bastaram para revelar uma tentativa deliberada de travar a transição energética.

Durante mais de 20 minutos, Gore desmontou o discurso da nova vaga de “realismo climático”, denunciando o que considera ser uma operação propagandística com raízes profundas nos interesses da indústria fóssil. Lembrou que 80% das emissões de gases com efeito de estufa provêm da queima de combustíveis fósseis e que os efeitos já são visíveis nas bolsas, no ambiente e na confiança global.

“Negacionismo com gravata”

Recorrendo a uma analogia inquietante com os filósofos da Escola de Frankfurt, Gore evocou Theodor Adorno para sublinhar os perigos de subverter a verdade com narrativas de poder. “Transformar todas as questões de verdade em questões de poder foi o primeiro passo para o colapso moral do século XX”, afirmou, apontando o dedo à administração Trump pela tentativa de reescrever a realidade.

Entre as afirmações que criticou, destacou a negação da crise climática, a desvalorização das energias renováveis e o uso de tecnologias futuristas – como máquinas de captura de carbono – como desculpa para não reduzir as emissões.

“Querem que acreditemos que as turbinas eólicas causam cancro ou que o aumento do nível do mar é uma oportunidade imobiliária. Isso não é realismo. É delírio com uma etiqueta de preço”, ironizou.

Impacto económico e injustiça global

O antigo Nobel da Paz apontou ainda os custos astronómicos da inação: mais de 178 biliões de dólares ao longo de 50 anos, segundo a Deloitte. Em contraste, uma transição verde poderá gerar 43 biliões em ganhos. E criticou a exclusão do continente africano dos investimentos em energia limpa, onde há mais oleodutos em construção do que painéis solares instalados.

“É um escândalo que África tenha menos painéis solares do que o estado da Florida”, denunciou.

Gore advertiu também para o risco de fluxos migratórios em massa – até mil milhões de pessoas até ao final do século, segundo a Lancet – e o impacto social e político que tal poderá ter, incluindo a ascensão de populismos autoritários que exploram o medo e a xenofobia.

Da retórica à acção

Num dos momentos mais marcantes da intervenção, Gore citou Martin Luther King e Joan Baez para lembrar que o antídoto para a desesperança climática é a acção.

“Se não puderes correr, anda. Se não puderes andar, rasteja. Mas nunca pares.”

O ex-vice-presidente lançou um apelo directo aos empresários, investidores e cidadãos: “Este é um momento de ‘partir o vidro’. Um momento de todos ao leme. Precisamos de olhar para cada canto das nossas vidas – negócios, escolhas, envolvimento cívico – e fazer mais.”

A Climate Week de São Francisco prossegue com dezenas de eventos centrados na transição energética, financiamento verde e justiça climática. Mas o discurso de Gore, carregado de urgência e indignação, colocou a fasquia bem alta logo no arranque.

Uma pergunta ficou no ar, cortante como um trovão seco em dia quente: e nós – estamos à altura deste momento?

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