Resumo
- Perante centenas de estudantes recém-formados, famílias e docentes, Pelley – correspondente sénior da CBS News e rosto habitual do programa 60 Minutes – desenhou uma narrativa que ligou história, resistência, verdade e responsabilidade.
- os diplomados da geração de 2025 têm um papel vital num tempo em que a democracia e o conhecimento estão sob ataque.
- Alertou que o “estado de direito está a ser desafiado”, que o jornalismo e as universidades são alvos de ataques e que “o medo insidioso” está a infiltrar-se nas escolas, nas empresas, nas casas e até nas consciências.
2 de junho de 2025
FUNDO | ENSINO SUPERIOR E CIDADANIA
WINSTON-SALEM, Carolina do Norte, 19 de Maio de 2025 – Num discurso carregado de emoção, alerta cívico e humanidade, o jornalista Scott Pelley falou diretamente ao coração dos finalistas da Wake Forest University. A pergunta que ecoou no relvado do campus foi simples, mas cortante: “Qual é o significado de vocês?”
Perante centenas de estudantes recém-formados, famílias e docentes, Pelley – correspondente sénior da CBS News e rosto habitual do programa 60 Minutes – desenhou uma narrativa que ligou história, resistência, verdade e responsabilidade. A mensagem foi clara: os diplomados da geração de 2025 têm um papel vital num tempo em que a democracia e o conhecimento estão sob ataque.
“Não perguntem o significado da vida. É a vida que está a perguntar: qual é o vosso significado?”
Um apelo à coragem em tempos de medo
Num tom confiante, mas sem condescendência, Pelley dirigiu-se aos jovens como quem os convoca para uma missão. Alertou que o “estado de direito está a ser desafiado”, que o jornalismo e as universidades são alvos de ataques e que “o medo insidioso” está a infiltrar-se nas escolas, nas empresas, nas casas e até nas consciências.
“Se o governo é do povo, pelo povo e para o povo, por que razão temos medo de falar?”, questionou, evocando Abraham Lincoln. E logo recordou que nenhuma geração escolhe o seu tempo de chamada: a história é quem escolhe – tal como aconteceu com os finalistas de 1861, 1941 ou 1968.
Heróis improváveis, respostas profundas
Para ilustrar o que significa estar à altura do momento, Pelley contou histórias reais. Começou com Volodymyr Zelensky, comediante transformado em Presidente da Ucrânia, que enfrentou a invasão russa de telemóvel na mão e coragem no peito. “Disse ao povo: Estou aqui. E uniu uma nação inteira.”
Falou depois de Nadia Murad, resgatada de um campo de refugiados do Estado Islâmico, que venceu o Nobel da Paz após contar a sua história. E evocou Sam Atar, cirurgião que opera civis em zonas de guerra com recursos escassos. Três nomes, um traço comum: escolheram agir, mesmo no meio do caos.
“Quem são vocês?”, repetiu várias vezes. “A resposta está nos vossos actos.”
A universidade como bastião da verdade
Pelley elogiou publicamente a coragem da reitoria de Wake Forest por subscrever um manifesto em defesa do ensino superior como espaço de debate livre, sem medo de censura. E citou George Orwell, aliás presente na entrada da BBC em Londres, com a frase: “Se liberdade significa alguma coisa, é o direito de dizer às pessoas aquilo que elas não querem ouvir.”
“Porque razão se atacam jornalistas e professores?”, perguntou. “Porque a ignorância serve o poder.”
O jornalista denunciou a inversão perversa de conceitos — “diversidade” tratada como ilegal, “equidade” como ameaça, “inclusão” como insulto —, acusando uma campanha de desinformação que visa reescrever a realidade. E apontou para o passado como guia: em 1962, Wake Forest foi a primeira universidade privada do Sul dos EUA a integrar estudantes afro-americanos. Um ano depois, Martin Luther King escrevia a sua célebre carta em Birmingham. Dois anos depois, nasciam os Direitos Civis.
“A verdade pode demorar, mas é a única que vence.”
“Não aceitem menos”
Na parte final, Pelley partilhou episódios pessoais: a série de recusas que recebeu da CBS antes de ser contratado. “Disseram-me para deixar de me candidatar. Mas eu continuei. Cada rejeição tornou-me melhor. E um dia ouviram a música no meu coração.”
Aos finalistas, deixou uma advertência sincera: não se resignem. “O mundo vai dizer-vos ‘não’ mil vezes. Mas o vosso valor não depende do que os outros conseguem ouvir.”
Ao entregar os diplomas — “não são papel, são testemunhos” — lembrou que o momento é uma passagem de bastão. Um convite à acção.
“Vocês são os educados, os compassivos, os defensores ferozes da democracia. Não tenham medo. O vosso país precisa de vocês. Agora.”
No fecho, ecoou a voz de Maya Angelou, antiga professora de Wake Forest: “I rise.” E o campo, de pé, respondeu com aplausos — como se, por um breve instante, todos tivessem compreendido o que significa estar à altura da pergunta.